A gasometria arterial é um exame essencial em ambientes de terapia intensiva, fornecendo informações vitais sobre o estado respiratório e metabólico do paciente. Através da gasometria arterial podemos obter rapidamente informações como o pH sanguíneo, saturação de oxigênio (SO2), pressão parcial de oxigênio (PO2) e de dióxido de carbono (PCO2). Também podemos avaliar alguns outros elementos que compõem o sangue como alguns eletrólitos (sódio, potássio, cálcio e cloro), bicarbonato e glicose.
Este procedimento, que envolve a coleta de sangue diretamente de uma artéria, requer atenção alguns cuidados que vão além da punção propriamente dita. Detalharemos a seguir um passo a passo sobre a coleta, desde os materiais necessários até os cuidados essenciais para um procedimento seguro e eficaz.
Materiais para a Coleta

Antes de iniciar, é essencial reunir todos os materiais necessários para garantir um procedimento suave e eficiente. Os materiais básicos incluem:
- Luvas de procedimento: a utilização de luvas de procedimento é obrigatória para garantir a segurança do profissional de saúde e prevenir a contaminação. Embora as luvas estéreis não sejam estritamente necessárias para a coleta em si, é importante manter a assepsia durante todo o procedimento.
- Seringa: a escolha da seringa depende do volume de sangue necessário para a análise e se outros exames serão realizados simultaneamente. Para gasometria isolada, seringas heparinizadas de 1ml ou 3ml são suficientes. Caso outros exames sejam solicitados, uma seringa de 10ml sem heparina deve ser acrescentada.
- Algodão embebido em solução antisséptica: a antissepsia da pele é um passo fundamental para minimizar o risco de infecção. O algodão deve ser embebido em álcool 70%, clorexidina alcoólica ou iodo, conforme a disponibilidade e a preferência institucional. Também podem ser utilizados álcool swabs, os lenços umedecidos com solução alcoólica já prontos para uso.
- Agulha ou escalpe: a escolha entre agulha e escalpe depende da preferência do profissional. Já o calibre e comprimento da agulha dependem também do local da punção e das condições do paciente. Agulhas mais curtas e mais finas, como a 25×6, 25×7 ou até mesmo a 13×4,5 são preferíveis para artéria mais finas e superficiais, como a radial ou ulnar. Já para artéria femoral ou em pacientes edemaciados ou obesos, pode ser utilizada até mesmo a 30×8. Quando o objetivo é a coleta de sangue também para outros exames além da gasometria o indicado é utilizar um escalpe, que facilitaria a troca de seringas para as coletas. Neste caso, também é recomendado um segundo profissional para auxiliar nas trocas das seringas e evitar tirar a mão do escalpe enquanto faz as trocas.
- Heparina: a heparina é um anticoagulante essencial para prevenir a coagulação do sangue na seringa, garantindo a precisão dos resultados da gasometria. O volume de heparina suficiente para heparinizar uma seringa de 1ml ou 3ml é bem pequeno, suficiente apenas para deixar microgotículas dentro da seringa, sendo que deixar muita heparina pode interferir nos resultados da gasometria. Seringas heparinizadas, disponíveis comercialmente, simplificam o procedimento, e devem ser preenchidas até o volume máximo informado pelo fabricante.
- Tampa de seringa: uma tampa de plástico ou borracha é utilizada para selar a seringa após a coleta, evitando a perda de sangue e a exposição a material biológico. Essas tampas acompanham as seringas heparinizadas que já vem prontas de fábrica.
- Etiquetas de identificação: a identificação correta da amostra é crucial para evitar erros de análise. As etiquetas devem conter o nome completo do paciente e outro dado de identificação preconizado pela instituição, além de data e hora da coleta, e outras informações relevantes, como FiO2.
Passo a Passo da Coleta de Gasometria Arterial
1. Preparo do Paciente e do Ambiente:

- Explique o procedimento ao paciente: a comunicação clara e transparente é fundamental para garantir a colaboração do paciente e minimizar a ansiedade. Explique o procedimento em termos simples, enfatizando a importância do exame para o seu tratamento. Muitos pacientes, quando acordados, já expõem o braço que acreditam ter a melhor veia e que outros profissionais, como os técnicos de laboratório, já utilizaram. Neste momento, reforçamos que a coleta precisa ser arterial, já que se trata de um exame específico para análise dos gases sanguíneos.
- Posicione o paciente confortavelmente: o posicionamento adequado do paciente facilita o acesso à artéria escolhida para a coleta. Caso seja artéria radial, ulnar ou braquial, o braço do paciente deve estar estendido e apoiado, com a palma da mão voltada para cima. Caso femoral, descubra a área, afaste um pouco os joelhos do paciente e evite expô-lo desnecessariamente, fazendo uso de lençois, cortinas ou biombos.
- Verifique as contraindicações: antes de iniciar a coleta, revise o histórico médico do paciente e certifique-se de que não há contraindicações para o procedimento, como distúrbios de coagulação ou infecções no local da punção.
2. Seleção do Local de Punção:
A artéria radial é a mais utilizada para a coleta de gasometria arterial, devido à sua fácil localização e menor risco de complicações. A artéria braquial também pode ser utilizada, mas a punção nessa região está associada a um risco maior de hematomas e lesões nervosas. A artéria femoral é uma opção em situações de emergência, mas deve ser evitada sempre que possível devido ao risco aumentado de sangramento. Outras artérias incluem a pediosa e a poplítea. Nunca puncione artéria carótida pois há risco de causar grandes complicações como hematoma cervical e até mesmo um AVC.

Modificado pelo autor.
3. Realização do Teste de Allen:
O teste de Allen é um procedimento simples, necessário para avaliar a circulação colateral da mão antes da punção da artéria radial. O teste consiste em comprimir simultaneamente as artérias radial e ulnar no punho do paciente, pedindo-lhe para abrir e fechar a mão várias vezes até que a palma fique pálida. Em seguida, libera-se a compressão da artéria ulnar, observando o retorno da cor à mão. Se a cor retornar em menos de 7 segundos, a circulação colateral é considerada adequada, e a punção da artéria radial pode ser realizada com segurança. Caso contrário, a artéria radial não deve ser utilizada para a coleta.
4. Antissepsia da Pele:
A antissepsia rigorosa do local da punção é essencial para minimizar o risco de infecção. Utilize algodão embebido em solução anti séptica ou swab pronto, realizando movimentos circulares do centro para a periferia. Aguarde a secagem completa do antisséptico antes de prosseguir com a punção.
5. Punção da Artéria e Coleta do Sangue:

- Palpação da artéria: utilize os dedos indicador e médio para palpar a artéria, localizando o pulso e seguindo o seu trajeto. A artéria deve ser palpada com firmeza, mas sem exercer pressão excessiva.
- Inserção da agulha: segure a seringa com a mão dominante e insira a agulha, em um ângulo de 30° a 45° (em pacientes obesos ou com edema o ângulo de inserção pode ser de 90°), na direção do fluxo sanguíneo, logo abaixo do ponto de palpação. A agulha deve ser inserida com um movimento suave e contínuo, até que se observe o retorno do sangue arterial na seringa.
- Coleta do volume necessário: o volume de sangue a ser coletado varia de acordo com o tipo de exame solicitado. Para gasometria arterial, 1 a 3 ml de sangue são geralmente suficientes.
- Remoção da agulha e compressão: após coletar o volume desejado de sangue, remova a agulha com um movimento suave e firme. Comprima imediatamente o local da punção com algodão ou gaze estéril, exercendo pressão firme por pelo menos 5 minutos para evitar a formação de hematomas. Remova as bolhas de ar da seringa, pois podem interferir nos resultados da gasometria. Tampe a seringa com a tampa de borracha para evitar a perda de sangue e a exposição a material biológico.
6. Cuidados Pós-Coleta:

- Reorganize o leito do paciente: descarte o lixo e agulhas adequadamente, recubra e reposicione o paciente, remova biombos cortinas e apague as luzes, conforme necessário e adequado.
- Identificação da amostra: rotule a seringa com o nome completo do paciente, data e hora da coleta, e outras informações relevantes para garantir a rastreabilidade da amostra.
- Transporte da amostra: encaminhe a amostra imediatamente ao laboratório para análise, utilizando uma caixa térmica com gelo para preservar a integridade da amostra.
- Monitoramento do paciente: após a coleta, monitore o paciente quanto a sinais de sangramento, hematoma ou outras complicações. Oriente o paciente a manter o membro puncionado em repouso e a comunicar qualquer sintoma incomum.
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